Internationales Zentrum für Ethik in den Wissenschaften (IZEW)

Principais achados do Workshop sobre o Brasil

No workshop sobre o Brasil, reunimos especialistas de cinco áreas-chave: sociedade civil, organizações não governamentais, governamentais, setor privado, educação e cultura. Nesta primeira iniciativa, tentamos responder à seguinte questão:

O que há de problemático na implementação de tecnologias digitais, por exemplo, em relação ao comércio de dados e exploração (digital) relacionada de grupos vulneráveis ​​e/ou marginalizados e o que poderia/deveria ser feito para adaptar as diretrizes internacionais às demandas de usuários de tecnologia, educadores, alunos e estudantes no Sul Global? Como eles podem se tornar agentes ativos, designers e tomadores de decisão em vez de usuários marginalizados expostos à exploração de dados?

Muitos especialistas participaram do workshop para uma sessão de 3 horas, na qual apresentaram suas principais ideias sobre a descolonização da tecnologia e ofereceram reflexões com base nas perguntas acima. Anotações foram feitas durante o seminário então organizado no Atlas.Ti e Excel para realizar a modelagem de tópicos, tentando extrair possíveis respostas para as questões abordadas. A seguir é possível ver 10 respostas considerando os seguintes assuntos:

  1. Arena Política da Tecnologia Digital;
  2. Determinismo Digital no Brasil;
  3. Interseccionalidade para compreender múltiplas identidades;
  4. Revisão da palavra “empowerment”;
  5. Cocriação de políticas e design digital;
  6. Importância dos ambientes informais de educação;
  7. Experiência do cuidado;
  8. Dispositivos como escolha de experiências;
  9. Dispositivos como decisão para enfrentar desafios;
  10. Promoção da consciência crítica;

A seguir é possível ver uma breve descrição de cada resposta:

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO REPRESENTAÇÃO - ARENA POLÍTICA

A tecnologia digital tem uma arena política, na qual apenas alguns conjuntos de indivíduos podem falar e ser ouvidos [seguindo os princípios da arena política, conceito elaborado nos anos 1980]. Os atores são, geralmente, porta vozes que representam interesses de determinados grupos. No entanto, nem todos os grupos estão representados de forma justa, seguindo uma dinâmica discriminatória de desequilíbrio de importância.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO DETERMINISMO DIGITAL - PARTICIPAÇÃO E ACESSO:

A presença da tecnologia e dos sistemas digitais no cotidiano sugere que políticas e iniciativas de governança os promovam na tentativa de levar prosperidade à população. No entanto, o outro lado da tecnologia oferece sua previsível obsolescência e agora existe todo um mercado focado em promover dispositivos e ferramentas em um movimento de renovação sem fim de dispositivos.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO A INTERSECIONALIDADE - COMPREENDENDO MÚLTIPLAS IDENTIDADES:

Fomentar o diálogo sobre justiça digital e lentes interseccionais é trazer a importância de múltiplas perspectivas para a construção de debates públicos. A partir do momento em que um grupo é expulso, cria-se uma bolha de opressão, que impacta diretamente sua participação ativa nas discussões que lhe são pertinentes. Além disso, a partir da análise de diferentes lentes (econômicas, culturais, de gênero, geográficas etc.), é possível compreender que os debates estão interligados por diferentes sistemas de poder e podem, portanto, marginalizar determinados temas ou populações, gerando discriminação e dinâmicas de privilégio.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO EMPODERAMENTO - POTENCIAL DINÂMICA TÓXICA:

O empoderamento é uma expressão amplamente utilizada no final do século XX para abordar a ação de conscientização sobre as estruturas de poder discriminatórias a fim de revertê-las, congregando um ambiente mais equitativo e sustentável. Grande parte de seu desenvolvimento deu-se com a expressão “Pós-Colonialidade” que é fruto do trabalho de Anibal Quijano (1992), no qual é possível apreender que a colonialidade é uma estrutura de poder, o que sugere que a pós-colonialidade ou descolonização também é uma estrutura de poder, mas em uma ordem inversa, também conhecida como emancipação e independência. No entanto, o conceito de empoderamento tem uma genealogia problemática, em que enquanto um grupo empodera, o outro é empoderado [e isso acontece num fluxo do hemisfério Norte para o Sul].

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO ESTRUTURAS CO-CRIADAS - POLÍTICAS E DESIGN:

Conforme expresso no tópico anterior, a cocriação de projetos e políticas é um elemento chave para promover um ambiente mais justo. Isso significa entender a formação cultural, social, econômica e educacional de um parceiro ou grupo em potencial e esse exercício leva tempo e recursos, que podem ter que ser direcionados especificamente para essa tarefa.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO CONFIGURAÇÕES INFORMAIS - PROMOVENDO DEBATE TECNOLÓGICO:

A discussão sobre provisão de tecnologia ou prosperidade digital está frequentemente relacionada a ambientes de educação formal. De fato, muitas das políticas públicas embarcam em cenários que envolvem escolas em todos os níveis de ensino. No entanto, muito desenvolvimento também acontece fora desses ambientes, o que é complicado por dois motivos: os recursos nem sempre são de origem governamental [no caso de ONGs, por exemplo] ou vêm da esfera privada, o que pode implicar que podem ser intermitentes. A segunda razão é porque é mais difícil medir o impacto que projetos ou iniciativas têm sobre os indivíduos.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO A EXPERIÊNCIA DE CUIDADO - METODOLOGIAS PARA MAPEAR E CRIAR:

A tecnologia é muitas vezes considerada em seu viés instrumentalista, como um meio para um fim. No entanto, o espectro sobre como os indivíduos interagem e apropriam a tecnologia como experiência de cuidado é muitas vezes negligenciado pelas esferas privadas ou governamentais.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO TÉCNICA E FERRAMENTAS - DISPOSITIVO COMO ESCOLHA DE EXPERIÊNCIA:

Segundo Foulcault, o dispositivo é o que transforma o sujeito em indivíduo. Em outras palavras, fornece novas lentes do mundo que não eram óbvias ou disponíveis antes dessa experiência específica. É interessante considerar o dispositivo, portanto, como uma escolha de experiência, não apenas como uma escolha para completar uma tarefa ou atingir um objetivo.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO INOVAÇÃO - DISPOSITIVOS COMO ENGRENAGENS PARA COMBATER DESAFIOS:

Continuando o argumento da oitava resposta sobre o dispositivo ser uma escolha de experiência, o dispositivo também pode ser o gatilho para enfrentar desafios. Como Williams [1975] expressaria em sua revisão da história da palavra “literacia”, as primeiras aulas de alfabetização para a população de massa aconteceram na Inglaterra com a Revolução Industrial, quando as fábricas ensinavam os funcionários a ler para que pudessem ler instruções escritas, mas não para escrever - uma vez que era considerada uma habilidade desnecessária para trabalhos. Porém, como diz Williams [1975], não há como se ensinar alguém a ler instruções em um trabalho que também não permita que essa pessoa leia um jornal revolucionário ou a cultura literária.

  1. RESPOSTA CONSIDERANDO A CONSCIÊNCIA CRÍTICA - REFLEXÃO, MOTIVAÇÃO E AÇÃO:

A consciência crítica é a combinação de reflexão crítica + motivação crítica + ação crítica. É um triângulo que envolve uma resposta sofisticada e complexa dos indivíduos. É, por outro lado, uma metodologia poderosa para fomentar a cocriação a fim de evitar práticas coloniais especialmente quando se trata de tecnologia e educação [pode ser, por exemplo, o raciocínio por trás da consciencia sobre o determinismo digital].